Um geek assumido com foco em digital. É assim que nosso entrevistado Neviton Santana gosta de ser identificado.
Já atuou em agências on-off e esteve por 9 anos a frente da própria agência, a Dotcase. Com isso adquiriu bagagem e pode aprender de tudo um pouco: criação, arte-final, direção de arte, programação, planejamento, marketing e coordenação de equipes de trabalho com foco em projetos digitais. Hoje, atua como UX/UI Designer / Service Designer como freelancer em seu home-office.
Leia abaixo a entrevista completa:
1 – Conte-nos sobre sua trajetória como UX Designer.
Minha formação em design é basicamente autodidata. Apesar de ter feito um curso técnico em Desenho de Comunicação no famoso Kaka (ETE Carlos de Campos), meus estudos e aprofundamento em design foi autodidata mesmo.
Tinha acabado de terminar o curso no Kaka e meu primeiro trabalho com o que poderia ser algo próximo do design foi em um laboratório de revelação fotográfica em 1999. Na época fazia muito tratamento de imagens e desenvolvia cartões de visita e convites fotográficos, algo que era bem comum na época. Lá conheci um amigo que estava estudando HTML e Javascript e me ensinou os primeiros passos para desenvolver sites. Também era a época de lançamento do Macromedia Flash hoje da Adobe. A internet estava engatinhando e como praticamente não haviam cursos voltados para o design digital foquei meus estudos no design gráfico tradicional, marketing e em paralelo estudava coisas mais técnicas como HTML, CSS e Javascript.
Em 2001 consegui uma vaga em uma agência digital através de um freela que fiz: uma animação dos 3 Reis Magos para um cartão de natal :D. Como eu ilustrava fiz a animação toda quadro a quadro no papel para depois passar para o Flash. Foi um trabalho e tanto rs. Com isso surgiu a oportunidade e fui contratado por esta mesma agência. E foi o começo de tudo. Lá aprendi a programar, desenhar fluxos, wireframes, layouts para sites, cd-roms (é, nessa época era bem comum) e peças de comunicação. O conhecimento adquirido nesta agência me abriu portas para outras oportunidades, passei por agência com foco em offline para coordenar a área de web, trabalhei em estúdio fotográfico o que me deu um ótimo conhecimento em tratamento de imagens. Fui para agência com foco totalmente digital e por último trabalhei em uma agência com foco em comércio eletrônico o que me possibilitou aprender bastante sobre varejo online e marketing digital.
Nas duas últimas agências em que trabalhei, a XLab (do Grupo TV1) e a Chleba, a estrutura já era mais multidisciplinar, com profissionais de mídia, planejamento, redação, arquitetura de informação, desenvolvimento, atendimento e gestão de projetos. Pude então aprender e absorver um pouco de tudo mas já com um foco totalmente voltado para o design. O conhecimento em programação me ajudou e muito a abrir portas pois me possibilitava a compreensão dos diferentes níveis dos projetos e acabei sendo ponte em muitos casos para organizar e trazer o entendimento das coisas entre equipes de trabalho e clientes.
E como todo profissional que está em formação e ávido por conhecimento fazia freelas. E não foram poucos. Foi aí que surgiu a oportunidade junto com um amigo e abrimos em Dez/2008 a Dotcase, uma consultoria de marketing digital. Estive a frente da minha própria agência por 9 anos atendendo a diferentes tipos de projetos mas começamos como uma produtora de projetos digitais e nossos principais clientes eram outras agências. Durante esse empreendedorismo mudamos o modelo de negócios para se tornar uma consultoria de marketing digital.
Ao todo se somados são pelo menos 25 anos de experiência onde pude atender clientes de diferentes portes e mercados: Novartis, Santander, Universia Brasil, Motorola, Carrefour, B2W, Bosch, Castrol, Grupo O Boticário, Nova Ponto.com, Grupo RBS, Volkswagen, Plano & Plano, Akzo Nobel, Tintas Wanda, Yakult, Viação Cometa, DER, ABTO, CSN, Usiminas, pra falar apenas alguns rs…
E aprendi e ainda aprendo muita coisa:
Direção de arte, UX/UI Design, Branding, Marketing Digital, SEO, Planejamento Estratégico, Conteúdo, Comportamento, Métodos de Descoberta, Processos Criativos, Tendências de Consumo, Startups, Negócios, Desenvolvimento Web e Tecnologia.
Para ficar por dentro participo ativamente de eventos, grupos de discussão e escrevo artigos sobre diversos temas: UX/UI design, planejamento estratégico, inbound marketing, marketing de conteúdo. Sou colaborador do Coletivo UX, um blog com foco em artigos sobre usabilidade e experiência do usuário.
Já palestrei para universitários e profissionais, participei de programa de TV para falar sobre Inbound Marketing e pude conquistar alguns prêmios no ABC da Comunicação, premiação que visa difundir o mercado de comunicação da região do grande ABC, além da indicação como um dos 3 melhores profissionais de marketing digital da região por dois anos consecutivos 2016/2017.
O hoje
Atualmente tenho uma consultoria em design e experiência do usuário, a Behavio.us e atendemos clientes como a Webmotors, Hyundai Financiamentos, Santander, FTD, Liberty Seguros entre outros. Nosso formato de trabalho vai nos moldes do movimento Be Officeless, ou seja, todo mundo remoto. Esse é o futuro agora 😀
2 – Qual é o maior desafio para demonstrar a importância do UX nos projetos que você já participou?
Não diria apenas a importância do UX mas do Design em si que em muitos dos casos era visto apenas como interface, layout bonito. Para mim o maior desafio era entender a real importância do que eu fazia para o cliente a partir do ponto de vista dele e do cliente dele. Quando fui promovido a coordenador de criação na Chleba pude participar mais ativamente de reuniões estratégicas o que me possibilitou enxergar as coisas por mais de um ângulo. Isso me ajudou a ser mais assertivo, a fazer as perguntas certas e a resolver o problema certo da forma correta.
Foi quase como adquirir a mediunidade para entender briefings.
Então se eu tenho uma dica para dar para qualquer profissional é: enxergue a si mesmo pelos olhos do outro.
3 – Na sua opinião, o que podemos esperar dos próximos 5 anos na área de UX?
A área tem crescido bastante. Vemos não somente consultorias de design ou de tecnologia mas também os próprios clientes abrindo núcleos de UX pois eles começaram a ver com o advento das startups a inovação, disrupção e evolução de produtos e serviços e o valor que o design entrega. No Brasil ainda estamos numa fase de aprendizado então creio que daqui a 5 anos estaremos muito mais maduros, mindset ágil, métodos e processos de descoberta como o Design Thinking, Design Sprint serão item de sobrevivência básica de qualquer empresa.
Hoje já percebo uma busca maior de profissionais seniors por parte das empresas mas como o UX no Brasil assim como o conhecemos agora é algo novo existe uma certa carência deste perfil porque os designers considerados seniors ou já estão bem colocados, estão no exterior ou tem seu background calcado no design gráfico e fazendo transição de carreira. Lógico não é impossível encontrar esse profissional e o amadurecimento sobre UX está acontecendo porque hoje temos toda sorte de eventos, palestras, workshops, cursos e graduações sobre o tema.
4 – O que é preciso para entregar uma experiência perfeita ao usuário?
Aqui vale entendermos que o profissional de UX não desenha a experiência. A experiência ocorrerá de uma forma ou de outra. O nosso papel é entender as pessoas, o ambiente e contexto em que as experiências ocorrem, quando, como e porque ocorrem. Só assim para podermos ajudar a desenvolver produtos e serviços que sirvam a propósito genuínos.
5 – Como o UX trabalha para identificar problemas de usabilidade e como criar hipóteses e testes para soluções dos problemas?
Em uma palestra onde apresento conceitos de UX para não designers utilizo um exercício de análise de contexto baseado em uma observação que tive olhando uma quitanda que ficava de frente para o nosso escritório da Dotcase. A quitanda praticamente não tinha movimentação de clientes e o dono estava sempre dentro da loja o que o impossibilitava de observar o ambiente em que ele estava instalado. Vou citar aqui algumas das coisas que eu enxergava pois estávamos a cerca de 3 andares acima deles e tínhamos uma visão privilegiada da região:
a – Ao lado e acima da quitanda tinham uma academia e um estúdio de pilates
b – A menos de 2 minutos de distância havia uma outra academia grande
c – Na avenida principal atrás da quintada há um circuito de caminhadas muito frequentado pelas pessoas em 2 horários distintos: manhã e fim de tarde/noite
d – Observamos atentamente os diferentes perfis de pessoas que passavam de frente para a quitanda em direção aos estabelecimentos (academias, estúdio de pilates)
A partir dessas 4 observações começamos a levantar hipóteses de soluções de negócio a serem validadas ou invalidadas. E essas hipóteses só puderam ser levantadas porque estávamos fora do ambiente da quitanda e pudemos perceber os entornos.
Moral da história: saia da caverna.
6 – O que é necessário para ser um UX Design brilhante?
Primeiro passo é estar aberto ao aprendizado. Sempre. Deixe o ego de lado durante esse processo. Segundo, compartilhe seu conhecimento. Só a colaboração nos ajuda a aprender ainda mais e a devolver algo de bom à sociedade. Terceiro, treine a empatia diariamente e comece pelo exercício mais difícil: o não julgamento. Temos 360 ângulos diferentes para avaliar qualquer situação e o seu ponto de vista não é o único. Quarto, aprenda com os erros, os acertos não nos ensinam nada.
Por último, não existe verdade absoluta.
7 – Deixe seu conselho para profissionais de UX sobre o mercado atual e o que é imprescindível num profissional para o mercado.
O mercado atual e dos próximos anos exige que sejamos multidisciplinares, porém o design é multidisciplinar, então, não tenha medo de aprender coisas novas mas tenha em mente onde você quer chegar. Aprenda a definir seu foco para que os demais aprendizados sejam complementares e ajudem a somar na sua carreira e experiência profissional. Design é e sempre foi sobre negócios e entender de negócios implica entender sobre muitas coisas que permeiam nosso mundo: da psicologia à arte, de tendências ao consumo, de pessoas à liderança, do passado ao futuro.
Entender que a área de UX é vasta e diversificada: você pode ser um ótimo UI designer ou pode preferir focar em pesquisas, talvez um foco maior em arquitetura, negócios ou gestão de produtos. Tenha em mente que não dá pra ser tudo ao mesmo tempo agora. Por isso mesmo o trabalho em equipe é fundamental e não é a toa que estamos ouvindo falar tanto de times de design por aí.
Neviton Santana
Senior UX/UI / Service Designer na Behavio.us
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