Está na hora de outra entrevista com um profissional de destaque no mercado internacional!
Fernando Aguiar tem atraído a atenção dos vehículos do mercado publicitário ganhando destaque na mídia por seu trabalho.
O jovem carioca encarou o desafio de se mudar para a Europa sem emprego garantido, mantém uma postura humilde e traz alguns aprendizados de sua carreira. Hoje como Copywriter na agência Carmen, da rede YoungNetwork, conheça pouco mais de sua história aqui no The Bridge News.
1. Conte um pouco sobre suas experiências anteriores de trabalho.
Eu comecei ainda na agência da faculdade no Projeto Comunicar da PUC-Rio. E fora do ambiente universitário, fui roteirista de chamadas do canal TV Brasil (antiga TVE) no Rio. Em televisão, aprendemos muito e em pouco tempo. Foi uma passagem ótima. Aprendi muito sobre roteiro, edição e linguagem televisiva. E isso me ajudou bastante quando comecei a trabalhar em agências, que sempre foi o meu principal foco.
A minha primeira agência pra valer foi na Casa da Criação no Rio de Janeiro. Era um estágio mas foi muito importante para a minha formação como redator. Profissionalmente, passei pela Conexão Brasil e Quê Comunicação, que depois sofreu uma fusão com a NBS e posteriormente foi adquirida pela Dentsu Aegis Network. Ainda tive passagens pela Artplan, Young & Rubicam Lisboa e agora estou na Carmen, agência criativa do YoungNetwork Group.
Esse grupo atua em vários segmentos e está presente em países da Europa e da África.
2. Vimos que você já foi premiado e teve seu trabalho reconhecido em algumas ocasiões. Como foram essas experiências?
Tive alguns trabalhos premiados no Rio e foram experiências legais. Mas falando das coisas mais recentes, tenho aproveitado mais os concursos depois da mudança para Europa. Em 2016, eu e a minha equipe fomos os únicos representantes portugueses no shortlist dos Novos Talentos do El Ojo Iberoamerica e também conseguimos um importante shortlist no Prêmio Lusos.
Foi uma grande alegria atingir estes objetivos no meu primeiro ano em Portugal. Em janeiro de 2017, fui selecionado para participar do ADCE High Potential 2017 com mais 3 portuguesas. Este evento aconteceu em Munique, Alemanha, e foi promovido pelo Art Directors Club of Europe com o objetivo de conhecer os jovens talentos europeus. Foi incrível. Também foi muito importante para mim participar do Young Lions Portugal. Não tem segredo, é trabalhar muito e ficar atento às datas. Ao longo do ano, a perspectiva é avançar ainda mais.
3. Como é trabalhar na agência Carmen, do grupo YoungNetwork?
Aqui em Portugal, eu já tive a oportunidade de fazer trabalhos para grandes marcas e na Carmen não está sendo diferente. Aqui há clientes como EY (antiga Ernest & Young), Sporting Clube de Portugal, KFC Angola, Grupo Entreposto e outros clientes portugueses e africanos. O desafio é animador. E aqui em Portugal é muito comum nas agências termos trabalhos vindos das ex-colônias portuguesas como Angola e Moçambique, por exemplo. Isso faz o desafio ficar ainda mais interessante pois falamos com muitas culturas diferentes.
4. Quais são seus maiores desafios no seu atual emprego?
O ambiente aqui é ótimo e ter propostas aprovadas sem dúvida é um desafio. Criar para mercados africanos, como eu havia dito, também é bem curioso. Vindo para cá percebemos infinitas maneiras de falarmos a mesma língua: português de Portugal, português da Angola, português de Cabo Verde, português de Moçambique, português do Brasil, etc. É muito rico culturalmente poder absorver tudo isso.
5. Por que você quis trabalhar fora do Brasil?
Percebi que eu já não era mais tão jovem como quando eu comecei e que ainda não tinha feito uma aposta de risco para a minha vida. Pensei também que a experiência de sair da zona de conforto poderia ser muito positiva. E acho que acertei. Tirei do Rio de Janeiro tudo o que ele poderia me dar, trabalhei com grandes profissionais, com grandes clientes e em grandes agências. Cheguei a conclusão que era hora de beber água numa nova fonte. Já tinha vindo a Portugal como turista e me apaixonei pelo país, a escolha do destino foi fácil.
6. Trabalhar em Portugal é diferente de trabalhar no Brasil? Se sim, por que?
Sim. Qualquer país, por mais próximo que seja do Brasil terá uma maneira diferente de trabalhar e pensar. Porém, Portugal tem uma ligação histórica e cultural muito forte com o Brasil. Vemos os nossos cantores vir fazer shows aqui, vemos os nossos artistas atuarem nas novelas daqui e vemos muitos publicitários brasileiros trabalhando aqui. Talvez de todos as conversas que o The Bridge já tenha tido com a galera que está espalhada pelo mundo, Portugal seja o país que mais já teve contato com os publicitários brasileiros. Grandes nomes da nossa publicidade já passaram por Lisboa, alguns ainda moram aqui e isso ajuda sempre a abrir portas.
Vale pontuar que apesar da proximidade cultural existente, Portugal tem uma cultura própria fortíssima. Como publicitário é importante vivenciar e entender isso ao máximo. Nem tudo é tão similar quanto parece, começando pela língua e indo até os hábitos culturais.
7. Quais seriam, na sua opinião, as maiores vantagens de se trabalhar e viver em Lisboa?
As vantagens mais óbvias de vida são poder fazer curtos deslocamentos para visitar países fantásticos do resto da Europa, ter um custo de vida mais compatível com os salários e poder fazer cursos excelentes que eu talvez eu não encontrasse no Brasil. Eu também sinto aqui um otimismo surgindo. O país está começando a sair de um período econômico de dificuldades, mas é possível perceber que as coisas estão mudando pra melhor. O Web Summit (maior evento de empreendedorismo e Startups do mundo) foi sediado por Lisboa no ano passado.
Em 2017 e 2018 teremos mais. Culturalmente também existe uma agitação, artistas como Vhils estão mostrando ao mundo que os lusitanos também sabem fazer arte. Isso sem falar da emoção que foi ver Portugal ganhar uma Eurocopa e de saber que o português, António Guterres, assumiu a liderança da ONU.
Sobre trabalhar aqui, eu considero que as coisas mais legais são entender como um outro povo pensa propaganda e como as referências europeias são usadas, fazer amigos e conviver com pessoas de todos os lugares do mundo. O fluxo de turistas e até de residentes não-portugueses é grande. Fiz um amigo britânico, um outro de São Tomé e Príncipe e já pude conviver com pessoas de lugares que nunca tinha ouvido falar.
8. Quais foram seus maiores desafios para chegar onde está?
Eu não vim para Portugal com trabalho certo. Bati de porta em porta até pintar a primeira oportunidade. Talvez tenha sido um dos maiores desafios que eu já passei. Fazer as portas se abrirem sem dúvidas foi uma grande vitória.
Falando sobre detalhes técnicos, quando eu me mudei pra cá, já tinha nacionalidade portuguesa, então não enfrentei os problemas de legalização que alguns precisam enfrentar.
Precisei apenas entender detalhes da legislação local. Quando eu cheguei, naturalmente o meu ciclo social não era tão grande, apesar de ter alguns primos no norte do país, mas procurei fazer disso uma vantagem. Coloquei toda a minha energia no trabalho e em vivenciar rapidamente a cultura. As outras vitórias vieram dos concursos que participei, conforme respondi anteriormente. Mas estando longe da nossa zona de conforto, todos os dias temos que correr atrás de uma vitória particular.
9. Quais são, na sua opinião, as habilidades essenciais para se destacar na área de criatividade?
Não quero cagar regra de forma nenhuma. Os grandes profissionais que já deram as suas opiniões sobre esse assunto de maneira brilhante foram vários. E vale a pena ver o que cada um deles disse.
Eu, particularmente não acredito em dom. Acredito que a criatividade é como um músculo. Só com muito exercício que as coisas começam a funcionar bem. Os “halteres” e “séries” são as referências, as tentativas, as opiniões que você ouve e as coisas que você vê. Nesse sentido, morar na Europa tem me ajudado. A quantidade de referências culturais e artísticas que podemos acessar aqui é realmente impressionante.
10. Se você pudesse escolher um trabalho ou uma empresa dos sonhos qual seria?
Você se sentir confortável para propor, dar sugestões e ver que a sua contribuição faz a diferença é a melhor coisa. A empresa dos sonhos é aquela que te faz acordar todos os dias motivado para ir trabalhar. Esse discurso parece bullshit, mas não é. Eu gosto do que escolhi para fazer da vida porque todo dia é diferente e porque somos constantemente desafiados a fazer o novo, e melhor. Se sentir uma peça importante na engrenagem, na minha humilde opinião, é o trabalho dos sonhos.